quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um marco histórico

O circuito de Sepang vai receber no próximo fim-de-semana o 20.º Grande Prémio da Malásia. E muito provavelmente este grande prémio ficará na história. Por uma, ou várias, das seguintes razões: Jorge Lorenzo pode sagrar-se campeão de MotoGP; Toni Elias pode sagrar-se campeão de Moto2; Dani Pedrosa pode tentar regressar prematuramente uma semana depois de ter fracturado a clavícula esquerda para se manter - sem grandes esperanças?! - na luta pelo título; poderá ser a última corrida de Valentino Rossi aos comandos de uma Yamaha. Que não perderá outra oportunidade de dar mais uma lição a J-Lo, mesmo que isso estrague a festa de consagração do espanhol. Ou especialmente a pensar nisso...

Desde 1999 que Sepang recebe o Mundial, sucedendo a Shah Alam (de 1991 a 1997) e a Johor (1998) como palco do Grande Prémio da Malásia (© motogp.com)

Depois de uma corrida intensa como a do Japão, com Valentino Rossi e Jorge Lorenzo a descascarem literalmente as carenagens das respectivas M1 uma na outra, o final de temporada ganhou uma nova dimensão, mesmo depois de a luta pelo título levar um banho de água fria com a queda de Dani Pedrosa na primeira sessão de treinos livres no Japão. Numa batalha mano a mano, a raposa velha bateu o seu jovem sucessor no poleiro Yamaha, e este manchou o brilhantismo da sua pilotagem com as declarações depois da corrida, queixando-se da dureza das manobras de Rossi e borrando ainda mais a pintura ao levar o assunto ao estado-maior da Yamaha. E estes deram-lhe razão. Se Lorenzo é que vai ficar e Rossi está de saída, poderia a Yamaha ter tomado outra atitude senão defender o seu piloto n.º 1 para os próximos dois anos? Que ainda por cima vai ser campeão? Obrigado Rossi, adeus Rossi.
A atitude da Yamaha poderá ter sido a gota que fez transbordar o copo de Rossi. O italiano poderá decidir ser operado depois do GP da Malásia, pelo que esta seria a sua última corrida da temporada, e a última com a Yamaha.
É muito pouco provável que aconteça, mas na terça-feira seguinte ao GP do Japão Dani Pedrosa ainda alimentava esperanças de poder correr na Malásia, faltando apenas ao primeiro dia de treinos. Vale a pena correr o risco quando as hipóteses de ser campeão são pouco mais que nulas? Mesmo que Dani cometesse a proeza de vencer todas as corridas que faltam - incluindo a da Malásia - bastava a Lorenzo terminar todas elas entre os oito primeiros para garantir o título. A não ser que mais um golpe de teatro atirasse com o espartano para o hospital. Com tantas desgraças este ano, seria mais uma...
Por tudo isto, o GP da Malásia - que foi anteriormente palco para conquista de títulos - vai ficar na história desta temporada de 2010. Quanto mais não seja por se esperar tanto e não acontecer nada do que acima se falou!
Jorge Lorenzo mostra mais semelhanças com Rossi na pista do que fora dela. Não se esquiva a uma luta, mesmo quando não precisa - como foi o caso no passado GP do Japão - mas depois vem queixar-se das manobras «a roçar o ilegal» de Rossi. Foram duras, foram, mas «legais» e limpas. Ambos mostraram a sua mestria e estiveram à altura da ocasião. E se Lorenzo aceitou o desafio de lutar de faca nos dentes - sem necessidade, relembro - depois não se pode queixar de levar uma naifada!
Só para apimentar a coisa, a TVE acusa Valentino de ter 'queimado' a partida, movendo-se antes do semáforo e a Dorna de ter fechado os olhos para não o penalizar com um ride through... o video está geo-bloqueado (só pode ser visto com um IP espanhol), mas quem tiver paciência para o encontrar na net, ou for subscritor do motogp.com, vão lá ver. Eppur si muove...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Três de seguida, e Espanha prepara a tri-festa em Valência

O Mundial de Velocidade entrou na fase final. Três grandes prémios consecutivos não vão deixar margem para erros, e apenas uma coisa parece garantida: vamos ter três campeões do mundo espanhóis - ou na pior das hipóteses, dois, se nas Moto2 o azar bater à porta de Toni Elias (pode acontecer) e simultaneamente Andrea Iannone bater Julian Simon (muito provável, aconteça o que acontecer a Elias).
Nico Terol, Marc Marquez e Pol Espargaró: um deles vai ser campeão de 125 cc. (Foto: Team Bancaja Aspar)
Na verdade, não seria inédito. Dos 32 títulos mundiais conseguidos pelos espanhóis na história do Mundial, alguns foram conseguidos no mesmo ano, às vezes pelo mesmo piloto: Angel '12+1' Nieto foi campeão de 50 e 125 cc em 1972, naquela que seria a primeira de várias 'dobradinhas' espanholas. Em 1981 Ricardo Tormo (o tal que deu nome ao circuito de Valência) foi campeão de 50 cc e Angel Nieto somava mais um título, o seu quarto na classe de 125 cc.
Mas os anos dourados viriam o final da década de '80. Em 1988 Jorge Martinez Aspar arrecadava os títulos de 80 e 125 cc e Sito Pons conquistava o seu primeiro título de 250 cc. No ano seguinte Sito bisava nas 250 cc, Manuel 'Champi' Herreros sagrava-se campeão nas 80 cc e Álex Crivillé alcançava o seu primeiro título, nas 125 cc.
Depois desse glorioso ano de 1989, o contigente espanhol passou uma década de seca, até Álex Crivillé se ter tornado no primeiro - e único até agora - piloto espanhol a sagrar-se campeão mundial na classe rainha, que então eram as 500 cc.
Os anos dourados dos espanhóis parecem ter regressado e nesta temporada de 2010 há nada mais nada menos do que sete 'cojonudos' candidatos a campeão: Jorge Lorenzo, Dani Pedrosa, Toni Elias, Julian Simón, Nico Terol, Marc Marquez e Pol Espargaró.
Três dos sete já têm títulos mundiais no seu currículo, e quatro anseiam pela estreia neste capítulo. Seja como for, vai ser mais um ano em cheio para a velocidade espanhola: esta temporada já conseguiram sete pódios totalmente espanhóis na classe de 125 cc, e em seis grandes prémios conseguiram a vitória nas três classes.
As minhas apostas para as coroas de 2010? Lorenzo, Elias e Marquez.

domingo, 6 de junho de 2010

O Mundial pós-VR|46

Os próximos grandes prémios vão ser um teste. Vamos ter um 'cheirinho' do que será ter um mundial de velocidade sem Valentino Rossi. Um flashforward para a era pós-VR|46. O homem até pode ser o melhor de todos os tempos, mas é humano - como as angustiantes imagens dos seus momentos de dor na gravilha de Mugello tão bem demonstraram - e não dura para sempre. Mais dia menos dia vai-se embora, seja para a F1, para o mundial de ralis ou simplesmente para casa, e o campeonato perderá nesse momento o seu maior cabeça de cartaz de sempre. Alguém escreveu um dia que o senhor Dottore é tão importante para o campeonato, que a Dorna lhe devia pagar uma percentagem das receitas de bilheteira dos grandes prémios. Isto resume muito bem a sua influência e prestígio no Mundial.
Agora enquanto estiver em recuperação, e não puder correr, vamos ter uma ideia do que será passar sem ele. E como será?
Valentino Rossi é uma referência neste desporto, é o piloto a bater. A sua pilotagem conjugada com o seu carisma, tão bem rentabilizados mediaticamente, tornaram-no num verdadeiro ícone. Falar de Valentino Rossi é falar de Mundial de Velocidade, e falar de Mundial de Velocidade é falar de Valentino Rossi. Mas só até um dia destes. E apesar de termos vários e fortes valores actualmente na grelha de partida, nenhum lhe chega aos calcanhares em termos de grandeza à escala global, dentro ou fora das pistas.
Este GP de Itália foi apenas uma pálida imagem da era pós-VR|46. Porque ainda não se notou verdadeiramente a sua ausência: apesar de estar a ver a corrida na televisão do hospital, desta vez foi como se tivesse arrancado da grelha de partida e depois cometido um dos seus raros erros, como já aconteceu antes - como em Le Mans ou Indy no ano passado. Na próxima corrida é que se vai sentir a ressaca. A sua box vai estar fechada. Sempre. Não o vamos ter na conferência de imprensa pré-GP, com as suas análises inteligentes e bem humoradas, deixando uma farpa aqui e ali no seu inglês sempre cómico. Em pista toda a gente vai aproveitar a sua ausência temporária para pensar em pódios vitórias e campeonato. E a sua ausência, que o vai afastar irremediavelmente da luta pelo título deste ano, vai originar um desfecho de certo modo injusto; quem quer que seja campeão, vai receber a crítica que se adivinha já: chegou ao título porque o Valentino Rossi se aleijou. Quem for campeão, será sim porque foi o mais forte ao longo de 18 corridas. Se o Valentino se lesionou... as corridas são assim, ossos do ofício. Muita sorte teve ele ao longo da carreira, conseguindo fazer 230 corridas consecutivas sem falhar uma única, sem nunca se ter magoado seriamente, até agora.
Lesionar-se em casa, e no ano em que termina o seu contrato com a Yamaha, parecem ser coincidências dignas da mais rebuscada série de ficção.
E sucessores? Primeiro ponto: Valentino Rossi é único e, atrevo-me a dizer, insubstituível. Quando se for embora, o campeonato vai perder também uma boa fatia de público. Tendo isto em consideração, poderemos ter mais alguém a desempenhar um papel de porta-estandarte do campeonato? Jorge Lorenzo pode ser um deles.
Mas não vai ter o apoio dos fãs de Rossi, que se estão a revelar um pouco fundamentalistas. Pensava que só havia disto no futebol. E Dani Pedrosa, se os problemas da Honda estiverem, com aparentaram em Mugello, resolvidos; mas não é um favorito do público, embora comece a revelar-se mais humano, a deixar transparecer uma personalidade que afinal existe por baixo daquela capa de Asimo. Personalidade de sobra tem Marco Simoncelli, mas a adptação às MotoGP não está a correr nada como esperado. Stoner tem que voltar a encontrar o rumo certo. Spies? Não está - como se previa - a fazer o furor que fez no ano passado nas SBK, mas dêem-lhe tempo... Dovi?
Ou seja, do monoteísmo actualmente existente, quando Rossi deixar o Mundial, teremos um campeonato mais plural, porque Rossifume só há um, e a sua ausência vai deixar um vazio difícil de preencher. Mas vão-se habituando. Já sabíamos que ia acontecer um dia, não é? As consequências da queda deste fim-de-semana apenas nos despertaram para a realidade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Confronto de talento

Os fãs de Valentino Rossi andam a ficar com azia. Basta dar uma voltinha pela internet. Por fóruns, Facebook e blogues, insultam Jorge Lorenzo porque este se atreve a comemorar vitórias de forma tão divertida quanto o seu ídolo. Avisam Lorenzo para não cantar de galo porque o Dottore ainda não se reformou. Que o espanhol só ganhou em França porque o italiano ainda estava lesionado - apesar de contradizerem o próprio 'lesionado' *.
Como se Valentino Rossi precisasse de desculpas para assumir uma derrota. Os próprios fãs não vêem que o seu ídolo é superior a tudo isso: é dos poucos que é tão gracioso na vitória como na derrota. Em Le Mans perdeu porque não teve andamento para Jorge Lorenzo. Ponto final. Não foi a primeira vez, nem a última.


Jorge Lorenzo vai ser campeão do mundo. Pode não ser este ano, mas vai ser. Se há alguém capaz de bater Rossi, é ele. E bate Rossi correndo à la Rossi. Aliás, arrisca-se a ser o próximo Rossi. Tão diferentes e tão iguais!
O italiano terá uma temporada muito dura na defesa do título, e o maior 'inimigo' está em casa. Bem levantou muros nas boxes e cortou cabos de telemetria, mas não lhe serviu de nada. O Lorenzo estouvado amadureceu, aprendeu com os erros, sabe agora o valor da calma e paciência.
Ambos estão um degrau acima dos rivais, e abaixo deles Casey Stoner parece ter voltado ao passado (ao mau passado), Nicky Hayden finalmente atinou, mas falta-lhe um danoninho, e na Honda a dupla Dovi e Dani tem outra luta entre mãos, para além do óbvio: cair nas boas graças do HRC.
Esta temporada do Mundial de Velocidade vai ser memorável. Porque vamos ter uma luta de titãs, e porque os 'Quatro Fantásticos' terminam os respectivos contratos no final do ano, o que fez com que a silly season esteja oficialmente aberta, mais cedo do que nunca. Stoner na Honda? Rossi na Ducati? O Jorge fica? E se o Rossi não for? E o Pedrosa, vai fazer o quê?
Mas mais emocionante que gatafunhos num papel timbrado, é o que se passa em pista, e neste momento as coisas estão quentes. Man, I looove this game!

* «I tried to stay in front of Lorenzo but it wasn't possible and I couldn't go with him once he was past, congratulations to him because he was very strong today! I can't blame my shoulder, I had expected it to be a bigger problem but in fact it was okay until six or seven laps from the end and by then the race was over for me.» in Yamaha Racing